15 de Outubro e muito obrigado!

Quem convive comigo e me conhece um pouco mais, provavelmente sabe o quanto neguei a docência e a academia. Isto se dava por perspectivas tanto políticas, diante da leitura conjuntural, quanto muito pessoais, numa avaliação de proficiências e limitações particulares. Mas algo mudou.

Neguei a academia por considerar um ambiente demasiadamente opressor e nada acessível às camadas mais populares da sociedade. Nunca me adaptei plenamente ao ambiente universitário. Costuma ser subutilizado, pouco responsável concretamente pelo cotidiano, desprendido da realidade, desapegado, corporativista. Tal lógica se reproduz mesmo numa universidade pública, no campo das ciências humanas, onde se dispõe a refletir a sociedade e a ampliar a visão de mundo.

Refutei a docência por outros motivos mais. O fiz pela timidez extrema na infância e em parte da juventude, o que anulava qualquer possibilidade de estar sobre um tablado ou na frente de uma turma completa. Também pela experiência escolar muitas vezes – mas nem sempre – hierarquizada, verticalizada, utilitarista, impositora, silenciadora – o que certamente agravou o quadro anterior. Pelas péssimas condições de trabalho e subvalorização dos profissionais de educação. E, fundamentalmente, por considerar a profissão mais importante de todas, de maior potencial transformador, e não me achar apto ou capaz para tamanha responsabilidade. Porém, todas essas questões foram se organizando e se desconstruindo em minha cabeça com o passar do tempo.

No ensino médio, um professor de história chamado Samuel, assumidamente comunista, foi o ponto inicial deste processo. E, antes que sugiram, não iniciou por uma suposta ‘doutrinação marxista‘, mas sim por exaltar a criticidade e coerência ideológica, isto é, deixar o topo do muro, descer e tomar posição perante as complexidades do mundo. Usou Ideologia, de Cazuza, para adentrar tais perspectivas. É preciso mais do que opiniões pessoais aleatórias, é preciso embasar tais argumentos com acúmulo teórico e ter nas práticas o critério da verdade. Fui descobrir a ideologia que quero pra viver uma década depois, não engessada, metamórfica, crescente a cada ampliação da visão de mundo.

paulofreire01

Depois, vieram as amigas e amigos que, assim como eu, adentraram o mundo das graduações destinadas à docência e à academia. O amor latente por suas experiências transformadoras enquanto discentes e docentes ultrapassam qualquer visão crítica, limitante ou desincentivadora, multiplicando com suas próprias vidas o contagiante brilho nos olhos diante da docência e o afã pela luta por uma educação verdadeiramente crítica, emancipadora e revolucionária.

Fica aqui meu agradecimento a todas as pessoas que contribuíram com a desconstrução dos meus medos e das minhas limitações. Sair da concha nunca é fácil. Hoje, vejo que neguei a docência por este ser meu verdadeiro e desafiante caminho. Então, se você é docente ou discente em formação, se você exalta seu futuro na educação ou o potencial da mesma, muito obrigado por restaurar cotidianamente minha vontade de transformar o mundo. Você possibilitou uma nova perspectiva futura para minha vida, antes tão sem rumo e vazia.

Obrigado a todas as professoras e professores! 🙂

Rennan Cantuária é estudante de Ciências Sociais no IFCS-UFRJ, coordenador do Nilópolis Debate e do Cineclube Toca da Coruja e membro do PSOL em Nilópolis.

Deixe um comentário